-
A bela tem se equilibrado sobre um bom número de quilos a mais na silhueta, nos últimos tempos. Nem o pretinho básico consegue disfarçar o adiposo transcender de fronteiras. Em alguns momentos, chegou até a me lembrar o grande Gérard Depardieu e também Dany De Vitto, este, no caso, trajando o célebre Pingüim, de “Batman - O retorno”. De certa forma, o nada singelo detalhe em questão prejudica um pouco a sua performance, sobretudo nas canções mais viscerais – aquelas de “líquidos viscosos que escorrem pelas coxas, molhando-as de suor e mel, também salivadas no gozo carnal da morena pele cor de jambo com cheiro de maracujá...” e coisas do gênero. E olha que é esta sinestesia toda a tônica de “Dois quartos”...
Para driblar a falta de mobilidade evidente, o truque de Ana no exercer de domínio sobre a sede de samborocô da platéia é, claro, usar e abusar do vozeirão. E também do carão. Nestes quesitos, ela continua invicta desde que se refestelou no top, top, top das paradas. E ainda há o poema! Claro, o poeminha de lei, ora! Bethânia e ela gostam desta coisa de impactar com a palavra falada, lá pela meiúca de cada espetáculo catártico. A irmã de Caetano tem aquele jeitinho lépido de correr pelo palco como uma “Gabriela Cravo e Canela” vovozona e, logo depois, se dedicar à leitura de versinhos adocicados. Geralmente, a temática gira em torno do mar, das plantas, de algum riacho baiano, “do ventinho de Santo Amaro que passa pelos cabelos como a mão de um anjo nefelibata do bum-bum redondinho com cheirinho de Hipoglós...”. Uma coisa.
Já com Ana Carolina, o buraco é mais embaixo! E põe embaixo nisso! Num dado momento, sai por um lado do palco e, endiabrada, desanda a aparecer de outro. Caminha até a boca de cena. Gozo total. De repente, um “tcharan!” instrumental emoldurado por luzinhas piscantes. Ela, então, lança, um olhar certeiro e 43 na platéia. Parte do público se esvai em urina. Tambores rufam. Jesus Cristo se mexe nos crucifixos. O palco se ilumina. Todos paralizam. Micro-miados ecoam na platéia. Uma voz literária novamente se assanha: “Substanciosaaa!”. Os micro viram macro-miados. Safadíssimos. A platéia enlouquece e se transforma uma espécie de boate de panteras. Logo a gataria vai minguando e se contém. Ela começa:
“Eu quero dar na tua cara!!!” Seguem-se, quase, concomitantemente, gritos impublicáveis. Todo mundo dando a cara a bater e parecendo sonhar com tal climão sadomasô. Até umas algeminhas são giradas para o alto. Brincadeirinha... “Eu quero enfiar a unha nesta tez tua e sentir o grito incomodar a vizinhança! Eu quero cheirar o teu cheiro, gozar na tua boca, me se sentir toda tua. Nua”. Dá pra perceber que Ana quer coisa à beça! E o público quer porque quer que ela continue querendo. O show, àquela altura, atinge o status de culto religioso. A platéia em transe, uma boa sacanagem bailando no ar, a luz psicodélica dando toda uma ambientada classuda...
E assim... Bem, assim o corso segue nesta balada, a 180 por hora, até o fim. Talvez, o único momento over seja o segmento de conteúdo político. As canções destoam um pouco do conjunto final, estando aquém do orgasmo daquelas de maior sex appeal. Além disso, o finalzão mesmo, pelo menos no dia em que assisti, soou trash até a alma. E tudo porque o DJ Zé Pedro, uma criatura mala-sem-alça lançada pela Adriane Galisteu quando ainda era um embrião de apresentadora, foi convidado a subir ao palco. A performance esquisitona daquele ser quase abissal (sua careca emite luz) ensaiou colocar as duas primeiras horas a perder, mas, valhei-me, Santo Ambrósio!, não durou mais do que infindáveis... Cinco minutos! Dali mesmo, se Aninha eu fosse, teria enterrado aquela cabeça de lua do dito cujo em uma das privadas do Canecão.
Não faltarão oportunidades. Afinal de contas, a musa já se tornou obrigatória no palco dos palcos do Rio de Janeiro.