quarta-feira, 5 de setembro de 2007

A dama de Waldick


Patrícia Pillar mergulha na obra de um dos mais antigos artistas populares brasileiros, desconversa sobre possível crise com Ciro Gomes e diz que ser mãe não é mais prioridade
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Por Fabato / Foto: Luciana Whitaker
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Se Waldick Soriano pudesse dedicar algum de seus versos consagrados para a atriz Patrícia Pillar, certamente se lembraria da canção "Doce Veneno", quando diz: "Foi Deus quem te guiou em meu caminho". E ela também não hesitaria em entregar de presente este trecho ao cantor e compositor. A razão é simples: há muito tempo não se percebia a atriz tão exultante com um projeto profissional - no caso, o CD e DVD que revisitaram a obra de Waldick, produzidos e dirigidos por ela, e lançados no final de agosto. Estes primeiros trabalhos culminarão em um documentário, em parceria com o Canal Brasil, sobre a vida do artista, com estréia prevista para 2008. Atualmente, Patrícia, moradora de um confortável apartamento no bairro do Jardim Botânico, zona sul carioca, está, praticamente, residindo a 200 metros de sua casa, onde alugou um pequeno imóvel e instalou sua produtora. Ali, diante de uma moderna aparelhagem de edição, comanda o processo de finalização do volumoso material em vídeo, reunido nas andanças e conversas com o autor de clássicos populares como "Eu Não Sou Cachorro, Não" e "A Dama de Vermelho".
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Ela conta que o carinho pelo artista é antigo. "Sou fã de radinho de pilha mesmo, desde menina. A música dele chegou a mim com uma carga de romantismo que eu acho fascinante até hoje. Brega é o preconceito", afirma. No documentário, também estarão imagens de Chacrinha, um dos grandes entusiastas da música de Waldick Soriano, e outro ídolo de Patrícia. Este resgate de suas próprias reminiscências, além, obviamente, da celebração da ininterrupta atividade artística do eterno Durango Kid brasileiro, hoje com 74 anos, tem levado a atriz a mergulhar sete horas por dia na materialização de sua empreitada. "Às vezes, na correria, até almoço aqui", conta.
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Casamento
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Se falar sobre a experiência vivida com o cantor deixa Patrícia entusiasmada, o mesmo não acontece quando o foco passa a ser o casamento com o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE), e uma possível crise entre o casal: "Não sei do que você está falando. Vamos deixar este assunto de lado?", pede, de forma carinhosa, mas definitiva. Também não se detém quando o assunto é a maternidade. "Às vezes penso nisso, às vezes, não. Aí complica, né? Porque para ser mãe tem de ter certeza", diz. Quando indagada sobre a possibilidade de ela e Ciro adotarem uma criança, a resposta é ainda mais direta. "Por enquanto, não. Acho linda a idéia, mas não conto com isso", finaliza.

Patrícia vive um momento de total entusiasmo profissional, e é sobre este momento que gosta e quer falar. A idéia de realizar o documentário aconteceu há pouco mais de dois anos, quando ouviu a música "Tortura de Amor". Desde então, decidiu pesquisar a biografia e discografia do cantor, com o objetivo de compreender a importância dele para a cultura nacional. "Em julho de 2005, um amigo me ligou dizendo que o Waldick faria um show no Ceará. Contratei um câmera em Fortaleza, levei um diretor de fotografia do Rio e fui atrás dele, decidida", relembra.

Depois de dançarem coladinhos no show, Ciro e ela jantaram com Waldick em um restaurante e, ali mesmo, começaram a ser reunidos alguns depoimentos. O primeiro contato com o ídolo foi marcante. "Eu fiquei encantada como aquele senhor altivo, ainda estava cantando bem, a voz mais madura, forte, ainda elegante, a postura linda. Um fascínio", recorda. Patrícia conta que o cantor recebeu a proposta com um profundo brilho no olhar. "Impossível não se emocionar, quase 50 anos depois do início de minha carreira, com este presente de uma de nossas maiores estrelas", derrete-se o homenageado. No transcorrer das filmagens, surgiu o desejo de produção do CD e DVD ao vivo, que ficaram prontos antes do documentário.

Para a gravação, ocorrida em novembro, um tradicional cinema de Fortaleza recebeu significativas modificações. A orquestra ficou posicionada em um palco, especialmente construído à frente da tela, e sete fileiras de platéia foram retiradas, dando lugar a uma pista de dança. "Fizemos em dois dias, com 1.200 pessoas em cada. Os fãs se emocionaram, cantaram, dançaram juntos, uma catarse de emoção", recorda a atriz. O desejo de se criar um climão de festa no interior era tamanho que a apresentação, gratuita, teve direito a anúncio em carro de som e até pipoqueiro na porta do cinema, para deleite da idealizadora.

Mas será que a partir deste flerte com produção e direção de documentário, a carreira de atriz poderá sofrer uma interrupção? Aos 43 anos, Patrícia, que já havia dirigido um clipe e produzido um CD da cantora Eveline Hecker, afirma não pensar nesta possibilidade, mas deixa escapar, nas entrelinhas, o quanto a experiência a fascinou. "Não posso afirmar que me tornarei diretora de cinema, mas, certamente, outras idéias farão com que eu, novamente, me apaixone. Minha cabeça, hoje, está sintonizada não somente em atuação."