quinta-feira, 5 de julho de 2007




"Quem não tem seu sassarico..."



Por Fabato



Em poucos momentos de minha vida, me emocionei tanto em uma montagem teatral como no caso de "Sassaricando... E o Rio inventou a marchinha", de Rosa Maria Araújo, a mulher Bienal, e Sérgio Cabral, o pai do homônimo. Não, eu não tenho bem mais de meia dúzia de décadas, a média etária tanto das marchinhas executadas, como também do público presente nos quase seis meses em cartaz no Rio de Janeiro. Conhecia muito poucas, aliás, desde o primeiro contato com esta maravilha dirigida por Cláudio Botelho. Ao todo, chorei, sorri, delirei e viajei nas asas de Eduardo Dussek, Soraya Ravenle e Sabrina Korgut, entre outros, por três vezes. Todas elas no teatro João Caetano. Bonito, bonito demais ver a Praça Tiradentes incendiar ao som de um universo tão, genuinamente, carioca, recheado de um bom humor visceral que, até hoje, tem me feito divagar em versos de Braguinha, Lamartine e João Roberto Kelly.

Lá estávamos nós, praticamente, toda a Previdência Social deste país e eu, imersos em uma experiência quase psicológica de autoconhecimento. No meu caso, de descoberta de uma parte de mim que ainda nem existia até então. Todos choramos escondidos, buscando viver aquelas emoções numa espécie de solidão acompanhada pelos atores. Nos "três dias de folia e brincadeira", no caso, duas horas, vimos "mais de mil palhaços no salão", andamos de bonde, guerreamos com confete e serpentina, na captura solitária daquele pouquinho de Rio de Janeiro essencial, ali dançado e musicado. "Ninguém morreu". Saímos sim cheios de vida, dispostos a buscar mais graça nas coisas simples desta cidade ainda cheia de graça.

Ouvira muito pouco da "cantriz" Sabrina Korgut, até presenciar a magia de sua atuação em "Sassaricando". Ela, aliás, teve de abandonar o elenco pois foi escalada para outro musical, "Miss Saigon", que estréia em São Paulo, no dia 12 de julho. O fato é que esta menina de olhos puxados, sorriso maroto e voz de diva ainda vai tratar de abalar as estruturas de meio mundo teatral em pouquíssimo tempo. Da mesmíssima maneira que já abalam um dos ícones dos oitenta, Eduardo Dussek, e a maior atriz brasileira de musicais, Soraya Ravenle, diabolicamente divinos, ou vice-versa, no comando de um elenco jovem e afinado. Alfredo Del Penho e Pedro Paulo Malta, os "Dois bicudos" da Lapa revigorada dos últimos anos, Juliana Diniz, fina flor de uma linhagem portelense de grande gabarito - filha de Mauro Diniz e neta de Monarco - e a ótima Ivana Domênico, que substitui La Korgut, completam o escrete eclético de craques.

A peça se despediu do Rio de Janeiro no domingo, 1º de julho, para encontrar a capital paulista. Da terra da garoa, deve transitar por alguns países, como Portugal, e voltar a desembarcar no Rio. Já correm boatos de que Rosa Maria e Cabralzão estariam debruçados na criação de "Sassaricando 2". Até lá, a gente torce para que nós, os arlequins chorões, encontremos a nossa cidade colombina mais poética e sem violência, no clima que elas, as marchinhas, a descreveram em outrora...